Winding Roads '14 - Dia 9 (Wörgl > Milão)

Bem hoje nem sei bem por onde começar...foi um dia tão intenso que ainda estou a tentar recuperar.

De manhã acordei cedinho e depois de espreitar o tempo procurei agasalhar-me o melhor possível, para enfrentar os tão ansiosos Alpes.

Foi vestir três camisolas, três calças, dois pares de meias, mais casaco de moto, mais impermeável e prontos, como já não cabia mais nada, fiquei-me por aqui.

Saí bem cedinho e fui em direção a Innsbruck. A Áustria tem paisagens lindíssimas e eu desde cedo, quis ir parando para poder tirar umas fotos. Tira foto aqui, tira outra ali...e o tempo ia passando.

Como, segundo o GPS, estava prevista a chegada a Bolzano, só depois das 15:30h e pensando que anoitece por aqui por volta das 17h, decidi colocar no GPS, um caminho direto para Bormio, não passando por Bolzano, o qual me deu um, a cruzar os Alpes.

Olhei para o céu, dava-me uma previsão de chegada às 13:45h e pensei eu, porque não. Antes de sair da Áustria abasteci a PCX, optei por encher também o jerrican, pois aqui a gasolina era mais barata e lá fui eu, muito devagar, devagarinho, isto porque, por aqui, a paisagem é fantástica, para qulaquer sítio que olhamos, parece-nos um bilhete postal, fabuloso.

Continuando, lá ia eu muito bem, com um tempo maravilhoso, até que ao aproximar-me dos Alpes é que me apercebo da sua real imensidão. Mas como estava ali, para trás já não podia voltar, então lá continuei com a PCX, ela com muito custo a subir a montanha, até que começa a chover imenso, chuva essa que nunca mais parou até chegar a Milão.

Alcançando o Passo Stélvio, para seguir-mos para Bormio e chegar à famosa estrada de Stélvio, tinhámos que seguir a Via Umbrail. Toca a subir, subir, até que chegámos a um ponto que nos diz, que a estrada está encerrada. Ainda arrisco chegar-me mais à frente, mas penso duas vezes e não, o risco é muito grande.

Volto para trás e peço ao GPS para me calcular uma outra alternativa. Mas ao chegar a essa estrada, também esta, está encerrada.

A partir daqui, confesso que me comecei a preocupar um pouco, porque ficava sem alternativas de estradas e o tempo não parava, passando já das 14h e eu só pensava em como iria sair dali, antes de anoitecer.

Tinha então duas alternativas, ou voltava para trás, ou seguia em direção dos Alpes Suíços. Como não queria voltar para trás, sigo em direção a St. Moritz.

A chuva continuava, a noite começava a chegar e eu só pensava, onde me fui meter, isto não é mesmo, altura para andar assim, no meio dos Alpes.

Avisto uma placa a indicar "Parc Naziunal Svizzer" e a PCX começa a subir com muito esforço, a pouco mais de 40km/h. Lá no alto não consigo avistar o topo das montanhas, vislumbrando apenas nuvens e muita neve. À medida que vamos subindo cada vez mais alto, a minha preocupação também ia aumentando.

Ao olhar para cima, as montanhas pareciam-me paredes brancas, impressionante aquela imagem...e lá íamos nós devagarinho, ali no meio daquela imensidão, só nós os dois...até que a reserva começa a piscar.

Como tinha enchido o jerrican, não estava nada preocupado, mas comecei a pensar, andei estes dias todos sem o encher, se hoje não o tivesse enchido já estava enrascado. Felizmente, tinha-o cheio e lá parei numa paragem de autocarros para encher o depósito à PCX.

Já atestada, continuamos caminho, seguindo a bonita estrada 27, passando ao longo de bonitos lagos e cidades, parecendo absolutos "postais".

A tentação era enorme e apesar de saber que estava a anoitecer rapidamente, não resisti em tentar tirar mais algumas fotos aqui, pois sabia que uma nova oportunidade em passar cá, assim no Inverno, não voltaria a ter, agora só voltarei num Verão, certamente.

Passo St. Moritz e continuo a não avistar o fim dos Alpes. Desesperado, mesmo estando a chover imenso e haver neve na berma, tento acelerar um pouco mais, para ver se consigo chegar ao fim, ainda com alguma luz solar.

Estou eu a andar até que reparo no GPS e vejo algo estranho. Uma estrada cheia de curvas "maradas". Avisto uma placa a avisar da aproximação do Passo de Maloja. Quando chego ao seu topo, parece que ganhei um novo alento, depois de todas as dificuldades anteriores, ver este Passo, mesmo, depois de não ter conseguido fazer o do Stélvio, foi como receber um prémio de honra. A estrada é fantástica, impressionante.

No sopé da montanha, mesmo depois de voltar a atravessar a fronteira italiana, a imagem dos Alpes era impressionante, a jorrar toda ela água, fazendo inúmeras cascatas. Aqui como já estava escuro, nem tentei sequer parar para tirar uma foto. O que queria era sair o mais depressa dali.

Até que chego a uma estrada que dava para ir para Como e uma outra para Milão, mas por autoestrada, tendo uma placa se sinalização, a proibir veículos de duas rodas com menos de 150cc.

Como, o que eu queria naquele momento, era sair dali o mais rápido possível, nem pensei duas vezes e meti-me na autoestrada mesmo não podendo.

A minha ideia inicial era apenas andar tipo, 10km e depois sair para prosseguir pela nacional, mas depois de ter reparado que o percurso era grande parte em túneis, o que implicava que eu conseguia ir abrigado da chuva intensa, lá continuei eu pela autoestrada.

Como Milão não estava nos meus planos e hoje não inha decidido qual seria o meu destino de dormida, a poucos quilómetros da cidade pensei, procurar um mac para poder ir à net e procurar um hostel barato para dormir.

Até aqui tudo muito bem, até que vou a um mac e a net pede-me que coloque um nº de telemóvel para poder aceder. Eu coloco, mas dá erro, pois não aceitava um contato português. Saio do mac tento ir a mais umas lojas, ver se me podiam arranjar a pass da net, mas sem sucesso.

Como normalmente os Ibis têm uns preços acessíveis e eu até já não me importava hoje, de gastar mais um pouco mais, o que queria era tirar toda a roupa molhada e tomar um banho bem quente o mais rapidamente possível, diriji-me para lá. Mas os preços estavam a 67€, o que para mim é um preço alto, pois psicológicamente o meu limite são os 50€.

A pensar ir já para o aeroporto dormir, eis que me lembro de ligar a minha namorada e pedir-lhe que me veja um hostel barato e me reserve para eu ir lá ter. E assim fez, hoje foi ela que me salvou, provando que até um aventureiro precisa sempre de uma grande mulher atrás para o ajudar. Obrigado Lu.

Depois do dia difícil de montanha, pondero abandonar a ideia de amanhã atravessar o Verdon Gorges, pois, hoje arrisquei bastante, menesprezando os grandes Alpes e fiquei um pouco receoso.

Se calhar vou tentar seguir direto para a zona de Avignon, deixando estes Passos e Col para um próximo verão. Como não conheço Turim, talvez dê lá ainda um saltito antes de prosseguir a viagem.

E assim vivi mais um dia desta viagem...hoje já com uma boa "dose" de aventura.

Estatísticas de hoje:

Distância percorrida: 471,86Km

Tempo em movimento: 09:13:48

Tempo de descanso: 02:37:03

Velocidade média: 51,1 Km/h

Velocidade máxima: 102,3 Km/h

Abastecimentos: 3

Litros abastecidos: 14,03l

Média consumo: 2,54l/100km

Média mais alta: 2,71l/100km

Média mais baixa: 2,25l/100km