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Dia 4 (Fez)

Hoje o dia foi de descanso para a NC e de exploração para nós.

Saímos do hotel por volta das 11h e indo em direção à medina de el-Bali reparamos que tudo estava mais calmo que o habitual. Pois é, hoje é sexta feira, o seu dia de descanso e nem todos abrem a sua "banca".

Mesmo assim, estava o caos normal instaurado. Reparei que alguns dos amigos que ontem tinha feito não se esqueceram de mim. Por aqui já ganhei o apelido de "Ali baba" e por onde passo todos me chamam. Até é engraçado, pois parece que já faço parte deles e assim pelo menos estes já não nos chateiam tanto. A minha namorada é que não acha tanta piada, pois assim não passamos despercebidos.

Fomos em direção à mesquita Karaouine, uma das mais antigas de Marrocos, para depois passar pelos famosos curtumes. Pego no telemóvel, ligo o gps e logo desisto de me tentar guiar por ele. É mesmo quase impossível. São tantas as ruas e com pouco sinal que aqui não nos serve de nada.


Depois, enquanto andamos na rua temos sempre pessoas a dizerem-nos que ali está fechado, ou que não podemos passar, tentando empurrar-nos para alguns dos falsos guias.

Resistimos a bastantes e lá andávamos perdidos pela medina, passando por ruelas muito estreitas e escuras, mas nunca nos sentindo inseguros. Aliás, reparámos que por toda a medina tem camaras de vigilância e sinceramente, mesmo ontem à noite que nos levaram por caminhos estranhos e escuros, jamais nos sentimos inseguros e ameaçados. Também nunca andamos com nada de valor e depois acho que aqui temos que nos deixar levar, porque senão não podemos passar das portas da medina.


Lá vimos a mesquita de fora, pois nesta não podemos entrar, e logo veio um miúdo dizer-nos que nos iria levar a uns curtumes e não queria nada. Lá o seguimos e assim foi, deixou-nos numa cooperativa de artesãos.

Dirigiu-se logo um artesão a nós e em francês prosseguiu a visita a explicar-nos todos os processos, desde a chegada da pele, até ao seu tratamento e venda para os artesãos depois a trabalharem. Como ficou ali mais de 1h conosco já sabia que não nos livrariámos dele sem ter que lhe dar uma "gorgeta", até porque a sua explicação tinha sido bastante detalhada e completa.

Mas antes de sairmos lá nos levou até aos outros artesãos para vermos as coisas que faziam com aquela pele. Aqui, caí no erro de lhes perguntar se tinham algo para colocar no banco da mota para ficar mais confortável, pois já tinha visto fotos de alguns viajantes com pele de ovelha e cordeiro no banco, dando-lhe um ar mais aventureiro e pelos vistos ganhando algum conforto também.


E pronto, já não consegui sair daqui sem nada. Felizmente só tinha levado cerca de 18€ comigo e se no início me pediram quase 60€, lá trouxe comigo a pele de cordeiro pelo dinheiro que tinha no bolso e mais a carteira dos trocos como "regalo". Mas ficamos quase 1h a negociar e sinceramente não sei se paguei um preço muito elevado pela pele. Espero que pelo menos consiga ganhar algum conforto, pois ultimamente já me tenho ressentido do banco de origem da NC.

Fomo depois almoçar por apenas 2€, e provar o café marroquino que achei muito bom. Aqui abusaram e levaram-nos um preço de "turista" bem alto, cerca de 1€ por café. Disse ao homem que nem em Portugal pagava isso por um café, mas pronto, não negociei antes, tive que pagar o que exigiu.


Depois do almoço prosseguimos a nossa aventura e descoberta pela medina e tentámos alcançar os curtumes mais antigos da cidade que sabia que ficavam junto ao rio.


Lá insisti novamente com o gps, mas rapidamente voltei a desistir. Andávamos de um lado para o outro e uns miúdos aperceberam-se que andávamos perdidos. Lá veio mais um com ar suspeito! Abordou-nos mas disse-lhe logo que não pagaria nada uma vez mais, e que me dissesse apenas qual a direção dos curtumes.


Dá-me a indicação e diz-me que para os ver teria que subir a uns terraços senão não viria nada. Pergunto-lhe quanto me iria custar e diz que por cerca de 2€ me levava lá e arranjava alguém para explicar.


Aceito, pois aqui acreditem, se não aceitarmos a ajuda dos habitantes locais vamos apenas andar perdidos, pois a medina é um autentico labirinto.

Subimos por uma habitação típica vários lances de escadas até chegar ao topo e avistar os tão famosos curtumes. Lá veio outro jovem ter conosco e explicar-nos novamente o processo. Aqui disse-lhe que não precisava explicar pois já nos tinham dito de manhã e prefiri ter com eles uma conversa acerca da realidade do pais, do seu dia a dia, do seu futuro. Ficamos então ali no terraço cerca de 1h30 na conversa, ofereceram-nos chá de menta (o tradicional) e falamos bastante acerca da realidade marroquina.

Jovens tais como nós, também com um reduzida perspectiva futura, que nascendo numa família pobre, poucas oportunidades tem no futuro. Apesar da educação ser gratuita, muitos destes jovens apenas querem ficar na rua a fumar haxixe, comer e dormir, parecendo ser um problema neste país o consumo desta substância. Pergunto-lhe se fumam desde novos e se por aqui o fazem em casa, ao que me respondem que sim e toda a família o faz.

Depois da conversa prosseguimos juntos até à mesquita dos Andaluzes, passando pelo meio dos curtumes e sentido de perto o cheiro intenso deste local e cumprimentando os trabalhadores que por lá estavam. Aqui estava tudo a ser reconstruído e os rapazes disseram-nos que a UNESCO estava a financiar estas obras.

Andámos com estes rapazes pelo menos mais umas 2h percorrendo uma grande parte do lado oposto da entrada da mesquita, passando por caminhos que duvido que muitos dos turistas comuns o façam, entrando em casas de habitantes locais para ver o interior destas e os seus fantásticos balcões centrais.


Lá nos deixaram no sítio onde nos tinham abordado e sem o quererem pedir, até porque já nos tinham dito que poderiam ir presos por uma noite se aceitassem dinheiro de turistas, lá nos pediram algo. Aqui sinceramente dei-lhes uma gorgeta com bom grado pois os miúdos foram impecáveis conosco e levaram-nos a sítios que sozinhos nunca teríamos ido.


A noite fomos comer a Pastilla de Fez com amêndoas e frango e que delícia, recomendamos.


Fez foi uma surpresa agradável e que gostamos bastante. Aqui já percebemos que temos que nos deixar levar e tentar aceitar a sua ajuda em algumas situações. O importante é negociar sempre antes e compreender que muitos o fazem porque não tem outra solução.


Amanhã um novo dia nos espera e este será bem longo. O nosso destino é Merzouga e esperamos alcançar o deserto ainda antes do pôr de sol.



Estatísticas do dia:


Distância (km): 19,77 (feitos a pé)

Tempo total (hh:mm): 08:46

Tempo de locomoção (hh:mm): 04:44


Abastecimentos: 0

Custo combustível (€): 0

Litros: 0

Média C.B. L/100km: 0


Alimentação (€): 15,40


Dormida (€): 27


Gorgetas(€): 5 (curtumes+guias)


Souvenirs(€): 18


Total (€): 65,40


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