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De mochila até...

Desta vez a viagem não se desenrolará sobre duas rodas, mas sim de mochila às costas como nos bons velhos tempos, em que sonhávamos ver o mundo do jeito que desse...e a qualquer custo!



Deixada há muito tempo atrás em casa dos meus pais, foi tempo de relembrar-me "dela" e tirá-la do fundo do armário, para voltar a "ver o mundo" e viajar...Muito mal tratada (já não me lembrava das mazelas de todo o maltrato), o primeiro reencontro, apesar do entusiasmo e nostalgia, confesso que, ainda pensei em substituí-la por uma nova e deixá-la ali a descansar para sempre....mas não, não podia fazer-lhe isso, pelo menos tinha de dar-lhe a oportunidade de comigo fazer mais uma viagem e depois sim poder para ali voltar com mais uma bela história.


Por isso toca a falar com a mãe e dar-lhe uns valentes remendos para juntos voltarmos a viajar!


Destino


As férias estavam marcadas e decidimos desta vez deixar a mota na garagem para viajar de um modo diferente.


A princípio equacionamos como destino o Sri Lanka e à posteriori Madagáscar. Mas depois de alguns contratempos e até devido à incerteza das épocas de monções nestes locais viramos-nos para aquele destino que há muito tínhamos nas nossas mentes...para um dia concretizar de mota.


Destino pouco comum e "descriminado", muito por culpa da comunicação social e das sanções/embargos internacionais a que está sujeito e também por se localizar numa parte do planisfério menos reputado, facilmente este país é colocado de parte como destino de férias.


Mas adversos a todos esses "rótulos" e perseguindo os nossos sonhos, buscando sim as verdadeiras histórias e relatos de viajantes, que também outrora desafiaram a contra informação, seguimos a nossa curiosidade acerca da sua cultura, das suas pessoas, hábitos e crenças religiosas, com o mesmo pensamento de Amyr Klink, em que diz:


" ...que um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver"


É verdade que a antiga Pérsia há muito nos alimenta os sonhos, desejando ao comando de uma mota atravessar o país de ponta a ponta.


Devido aos poucos dias disponíveis (15) era-nos praticamente impossível levar a própria mota, pois a distância obrigaria a gastar praticamente todo este tempo na viagem.


Havia ainda a questão do Carnet de Passages en Douane, documento alfandegário que identifica o condutor de um veículo a motor e respectiva papelada do veículo, necessário para entrar em diversos países do mundo.

O Carnet permite aos viajantes, a importação temporária do seu veículo sem ter que pagar a respectiva taxa alfandegária do país por onde vão conduzir, contendo informação do veículo (marca, modelo, cor, cilindrada, número de registo, proprietário, valor comercial) e obrigando-nos a deixar uma caução de 3 vezes o valor comercial do veículo.

Existia ainda a possibilidade de enviar a mota, por exemplo, para a Grécia ou Turquia, mas as tarifas de desanfaldegamento, custo de transporte, seguros, etc não compensava, na nossa opinião, os poucos dias que viajaríamos por este país.


Assim, procuramos informações acerca da hipótese de alugar por lá uma mota, contactando um companheiro habituado a ajudar viajantes de todo o mundo a entrar no Irão com as suas motas, Hossein Sheykhlou, do Overland to Iran, informando-nos que alugar mota no Irão seria quase impossível, existindo apenas cilindradas 125cc e 250cc e o mais fácil seria "comprar" uma mota a alguém, para depois voltar a "vendê-la" à mesma pessoa. A outra hipótese era viajar para a Turquia e lá alugar uma mota que nos permitisse entrar depois no Irão, processo que levaria sempre uns 4/5 dias para tratar de burocracias.


Esgotadas as opções, decidimos então viajar da forma mais rápida e fácil...de avião!


Preparação


Bilhetes comprados, estava então na altura de começar a pesquisar informações acerca do Irão.


Bombardeados pela comunicação social acerca disto e daquilo do Irão, era fácil encontrar notícias acerca deste país na Internet...notícias essas quase sempre relacionadas com o mesmo assunto, que nem vale a pena aqui comentar.


Ou seja, informações que pretendíamos saber acerca da sua cultura, história, atrações turísticas, roteiros, vistos, eram muito poucas e as que existiam tínhamos que esmiuçar muito bem para evitar todas aquelas notícias sensacionalistas.


Como sabia que a companheira Paula Kota já por lá tinha viajado na sua Bmw GS, foi a primeira pessoa que contactei para obter informações acerca deste destino e que prontamente e amigavelmente nos respondeu e incentivou a visitar este belo país, pois era muito diferente daquilo que líamos e víamos na comunicação social. Li e reli várias vezes a sua publicação acerca da sua viagem pelo Irão, na revista motociclismo e cada vez mais me entusiasmava com a possibilidade de também eu poder viajar por este país.


Encontramos ainda dois blogs, cheios de boa informação e que muito nos ajudaram na preparação desta viagem, partilhando aqui o excelente trabalho destes "bloguistas", pois bem merecem:



O Visto


Podem encontrar praticamente toda a informação acerca do Irão nos blogs descritos anteriormente, no entanto partilhamos convosco a nossa experiência pessoal do pedido do visto, pois pode evitar-vos algum contratempo e custos adicionais.


Apesar da informação encontrada na Internet recomendar o trato do visto diretamente e pessoalmente na Embaixada do Irão em Lisboa, como vivemos em Coimbra decidimos entrar em contato por telefone/mail, para assim evitar as deslocações à capital.

Após várias tentativas de contato telefónico, ao fim de uma semana lá nos atenderam dizendo de forma "fria" o que era necessário para o visto.


Ao email nunca nos responderam!


Reunimos a papelada que nos tinham pedido e enviamos tudo por correio, com aviso de recepção. Como tinham passado já 3 semanas após envio dos documentos decidimos ligar, a duas semanas da viagem para saber como decorria o processo.

Após vários dias a tentar ligar para o consulado, lá nos atenderam informando-nos que o processo estava parado por falta de documentação.


Ou seja, sabendo eles que faltava algo importante para concluir o processo, não foram capazes de ligar ou responder aos mails informando-nos que faltava algo, obrigando-nos a deslocar pessoalmente a Lisboa duas vezes para entregar a papelada restante em falta e depois para levantar os vistos.


Tivemos ainda de pagar uma taxa extra pois, como restavam apenas 4 dias úteis até a viagem foi necessário realizar um pedido de urgência. Ou seja, se puderem tentem sempre tratar do visto pessoalmente no consulado.


http://e_visa.mfa.ir/en/

Outra dificuldade aquando preparação desta viagem foi na pesquisa de um hostel/hotel que pela Europa tão bem funciona, por exemplo, pesquisando através do Booking, mas no Irão torna-se uma tarefa difícil por esta plataforma não ter hotéis disponíveis neste país.


Existem no entanto alguns websites com hotéis disponíveis, mas apressem-se em arranjar uma reserva, pois, estes são websites que todo outros viajantes encontram e reservam, sendo complicado mesmo assim conseguir uma reserva.


Estavam assim encontradas todas as dificuldades de preparar uma viagem pelo Irão!



Outras informações


Devido aos inúmeros embargos internacionais há que ter uma outra preocupação, nomeadamente quanto ao dinheiro a levar para uma viagem no Irão, pois os nossos cartões de multibanco não funcionam neste destino, obrigando-nos a calcular bem os nossos custos e levar a quantia que achamos despender por lá e trocar por Riais iranianos.



Marcamos também uma consulta de viajante através do SNS, para nos aconselhar e receitar medicação/repelente para esta viagem através:


Consulta do viajante

E foi-nos exigido um seguro de viagem para conseguirmos obter o visto.


O que não se fala


O Irão é um país prodigiosamente rico em recursos naturais. Com 70 milhões de habitantes e uma superfície de 1.650.000 km quadrados (o triplo da da França), é o quarto exportador mundial de petróleo e possui as segundas reservas de gás e petróleo do planeta.


Quase tudo ali difere da imagem de terra de violência, fanatismo e atraso económico e social difundida no Ocidente pela comunicação social. Encontramos um povo amável, cativante na relação com o estrangeiro, educado (apenas 8% de analfabetos), com uma alegria de viver hoje rara no mundo.


Ao contrário daquilo que podemos pensar, o Irão é um país bastante desenvolvido, limpo e a sua população é muito culta, bem educados e com uma consciência cultural/política enorme.


Em primeiro lugar, se perdermos algum tempo a ler algo acerca deste país encontramos facilmente relatos pessoais que neste país se sentiram bastante seguras, calorosamente recebidas, pelo seu povo até "exageradamente" hospitaleiro e que tem uma taxa de crime bem inferior à maioria dos países europeus e do que os EUA.


A única razão pela qual o Irão é o “inimigo” do Ocidente, é porque este recusa-se a entrar em organizações internacionais de controlo de petróleo...Simples quanto isso.


Está por isso na altura de fazermos as malas e partir, para descobrirmos e termos a nossa própria opinião acerca do Irão.

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